All hail Phelps! All hail Phelps!
Ele não poderia ter parado mesmo. Estava ainda no auge da sua forma, e poderia ter feito mais do que as 18 medalhas que conseguiu em Londres. E, mesmo que diga, não pode parar, a não ser que não renda mais o suficiente. Esta é a conclusão a qual se chega após vermos outro grande show de Michael Phelps nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Ele foi o grande nome do quarto dia da natação no Parque Aquático Olímpico da Barra, levantando a galera que o ovacionou de pé depois de dois grandes shows.
O primeiro deles foi nos 200 borboleta. Forte na ida (53.35), meio cansado e errando uma virada na volta, ele fez o suficiente para abiscoitar a sua vigésima medalha dourada (então eram 24 no total) após parar o cronômetro em 1:53.36, e ser o primeiro atleta na história dos Jogos a ter perdido um ouro numa Olimpíada e recuperá-la depois. Em 2012, ele tinha perdido-a para Chad Le Clos (RSA); sequer o sul-africano conseguiu o pódio nesta jornada, ficando com 1:54.06 e a quarta posição (mais uma vez: a Olimpíada é cruel...). Quem completou o pódio foram Masato Sakai (JAP), este que ficou a quatro centésimos de melar o ouro do Greatest. A grande surpresa foi o bronze de um húngaro. Quem esperava Laszlo Cseh, viu Tamas Kendeersi. Ele completou o pódio com 1:53.62, enquanto o favoritaço deu mais um vexame: 1:56.24 e o sétimo lugar. Isso quebra qualquer bolão. Imagina quão baixo será o número de acertadores da Yes Swim...
O segundo show veio com o 4 x 200 livre. Após ser premiado, ouvir o Hino, se emocionar, tirar fotos, beijar Boomer e Nicole, tirar mais fotos e ser mais ovacionado ainda, ele voltou para fechar o campeão revezamento americano (mesmo com touca rasgada). O tempo total foi 7:00.66, e o dele, 1:45.26. Na vigésima primeira medalha máxima da Lenda Viva, seus coadjuvantes foram Conor Dwyer (1:45.26), Towley Haas (o mais rápido com 1:44.14) e Ryan Lochte (o mais devagar, 1:46.23). Lá atrás, disputa sensacional entre Japão e Grã-Bretanha. Os nipônicos até começaram bem, com Kosuke Hagino cravando 1:45.34, Naito Ehara, 1:46.11, e Yuki Kobori, 1:45.71, seu melhor tempo ever que só não conta porque não abriu revezamento. Mas aí James Guy (GBR) surgiu para arrumar as coisas com 1:44.85 e ultrapassou Takeshi Matsuda, que só fez 1:46.34. Prata britânica, 7:03.13 e bronze japonês, 37 centésimos atrás. Na fogueira, o revezamento brasileiro só apareceu para fazer número, ficando nas eliminatórias com 7:13.84 (sendo 1:48.19 de Luiz Altamir, 1:47.77 de João de Lucca, 1:49.19 para o estreante André Pereira e 1:48.69 para Nicolas Nilo Oliveira).
Mas, diante da realeza de Phelps, tudo isso é só mais um detalhe.
AINDA TEVE AS RAINHAS...
No dia de majestades, Katie Ledecky (EUA) e Katinka Hosszu (HUN) também queriam dividir esse privilégio. Nos 200 livre delas, Ledecky e Sarah Sjostrom (SUE) disputaram palmo a palmo na piscina final o ouro, mas a volta de Ledecky foi determinante para seu segundo ouro: 1:53.73, segundo melhor tempo da história sem trajes (atrás apenas de Alison Schmitt, que fizera 1:53.61 em Londres, OR inclusive) e Sjostrom foi só prata com 1:54.08, também seu melhor tempo ever. Emma McKeon (AUS), dominante na primeira parte da prova, se cansou na segunda, mas garantiu o bronze com 1:54.92, derrotando La Diva Federica Pellegrini (ITA), que saiu com as mãos abanando e 1:55.18.
Já a Iron Lady, entre outros apelidos, teve outra chance para mostrar ao mundo quem é que manda, batendo por duas vezes o OR dos 200 medley. Nas eliminatórias, 2:07.45. Na final, mais baixo ainda: 2:06.58, a 47 centésimos da marca dela própria do WR, apesar da pressão de Siobhan Marie O'Connor (GBR), que só foi prata por 30 centésimos. Completou o pódio Maya Dirado (EUA), com 2:08.79.
CHORA, BRASIL!
Um choro de felicidade, o outro de tristeza. Assim pode-se resumir o dia brasileiro no Parque Aquático Olímpico da Barra. A tristeza foi por Joanna Maranhão (Pinheiros), que reconheceu que poderia ir mais longe nestes Jogos. Nos 200 borboleta, ela ficou pelo caminho nas eliminatórias com 2:10.69. Ok, ela poderia ir melhor, ao meu ver, no medley. O problema é que porcos chauvinistas que a xingaram nas redes sociais podem ter influenciado no resultado. "Quando entrei na fan page [no Facebook], não sabia que a coisa estava tão pesada assim. Não sou uma super mulher, e aquilo mexeu comigo. Demorei para dormir e acordei pensando nisso. A gente dá duro todos os dias, mas o Brasil é um país homofóbico, xenofóbico, racista (grifo nosso). Não estou generalizando, mas há pessoas que são assim e quando elas estão atrás de um computador elas se veem no direito de agir assim. Todo mundo tem direito de discordar de meus posicionamentos políticos, mas minha formação e minha história me fizeram que sentisse necessidade de me posicionar politicamente. O que eu puder fazer para melhorar meu país eu vou fazer. Mas desejar que eu seja estuprada, que minha mãe morra, comemorar que eu não peguei uma semifinal, isso é covardia, falta de caráter e não se faz com ninguém", desabafou, às lágrimas, a pernambucana, que não, não irá parar em 2016. Deixem-na em paz: ela tem o Finkel, em Santos, para mostrar que pode e deve ir bem. Madeline Groves (AUS) vai largar hoje na raia 4 com os 2:05.66 que fizera na semifinal, seguida por Mireia Belmonte (ESP, 2:06.06), Yilin Zhou (CHN, 2:06.52) e Natsumi Hoshi (JAP, 2:06.74).
E o choro de alegria foi de Marcelo Chierighini (Pinheiros/Auburn - foto). Ele levantou a galera galgando seus degraus para a final de logo mais nos 100 livre. Nas eliminatórias, 14º tempo, 48.53. O outro brasileiro, Nicolas Nilo Oliveira, não foi além de 49.05. Nas semifinais, foi bem na primeira piscina, se cansou no finalzinho, mas fez o suficiente para o oitavo tempo e o alívio geral: 48.23. Se for servir de lembrança, foi na raia 8 que Cesar Cielo (Minas/Arizona) largou em 2008, nos 100 livre, para abiscoitar o bronze. "nado melhor nas raias de fundo, eu não sei porquê. Isso vai me dar confiança para a final", disse, aliviado e feliz.
E como diz Mariana Brochado, "uma raia, uma chance". Nathan Adrian (EUA), nas eliminatórias, foi o décimo sexto tempo com irreconhecíveis 48.58. Mas se deram chance, ele dá seu show: vai largar na raia 4 com o melhor tempo da semifinal, 47.83. A revelação Kyle Chalmers (AUS), com 47.88, abaixou ainda mais seu recorde mundial júnior e, sim, é esperança de medalha já no Rio. Cameron McEvoy (AUS), a quem apostamos como responsável pelo novo WR, só foi o terceiro nas semifinais com os mesmos 47.93 de Santo Condorelli (CAN). Fechando o clube dos 47, Caeleb Dressel (EUA), com 47.97. Vai pegar fogo essa final. E aguardemos que Chierighini vá além dos 48.11 que fez no Troféu Maria Lenk em 2013, lá perto, no Parque Aquático homônimo.
Nos 200 peito, o trauma da última piscina tirou Tales Cerdeira (Unisanta, 2:12.83, depois de chegar a liderar) e Thiago Simon (Corinthians, 2:15.01) das semifinais, e olha que eles já tinham feito melhor. Cameron Van Der Bergh também não foi longe, 2:11.28. Ippei Watanabe (JAP) bateu o OR e pinta como favorito após 2:07.22 nas semifinais.
NOSSOS PALPITES PARA HOJE
Mais um dia que promete porque, além das finais já citadas, vamos ter esperanças com os 200 medley masculino começando. É, já disse e volto a repetir, a prova mais difícil de todas, por "só" ter Phelps, Lochte, Hagino, Thiago Pereira (Minas/Florida) e Henrique Rodrigues (Pinheiros) como favoritos, mas outros possam vir a aparecer. O medo é que alguém venha pregar uma grande peça neles, como tem acontecido. Mas vou ser racional e apostar no feijão com arroz: ouro para Phelps, prata para Thiago e bronze para Lochte e Henrique na final.
Os 100 livre delas é a prova que começa tudo hoje. As brasileiras são Etiene Medeiros (SESI) e Larissa Martins Oliveira (Pinheiros). As duas não tem mostrado resultados ótimos em competições internacionais e condições altas de temperatura e pressão, mas acho que a pernambucana vai pegar, ao menos, semifinal. Nem preciso dizer quem vai ser ouro e prata, todos já sabem que é Cate e Bronte Campbell (AUS). Difícil vai ser quem vai pegar o bronze. Aposto em Ranomi Kromowidjojo (HOL), pela fase. Mas tem Sarah aí e isso deixa difícil qualquer bolão.
Nos 200 costas deles, acho difícil que Leonardo de Deus (Corinthians) prossiga. Não é a prova dele, só que estamos vendo que tudo é possível. Aposto em ouro de Mitch Larkin (AUS) e dobradinha americana na prata e no bronze, com Ryan Murphy e Jacob Pebley.
Nos 200 peito feminino, a nova geração é representada na ucraniana naturalizada turca Viktoria Gunes, que para mim leva o ouro. A prata deve ficar com Rie Kaneto (JAP) e o bronze, com Yuliya Efimova (RUS).
Por fim, o 4 x 200 livre delas. Quem dera Larissa, Manuella Lyrio (Pinheiros), Jéssica Bruin Cavalheiro (SESI) e Gabi Roncatto (Unisanta) nos levassem para a final. Mas o objetivo delas é o recorde sul-americano e isso pode ser mais que o suficiente. Minha previsão para pódio: EUA, Itália e Suécia.
Vamos ver se outros bolões caem mais tarde.
(informações da Best Swimming, Yes Swim, Swim Channel, SwimSwam e Swimming World - fotos de Satiro Sodré/SSPress/CBDA)